Temos assistido nas últimas semanas ao espetáculo de maior projeção global em nossa Cidade Maravilhosa, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, onde grande parte das maiores companhias globais se fez presente, tanto como patrocinadoras, oficiais ou não, como apoiadoras de Comitês Olímpicos Nacionais, e de “ícones esportivos” de modalidades diversas, como Usain Bolt, Michael Phelps, entre outros. Entre os principais objetivos destas empresas estão as conexões de suas imagens institucionais ao Esporte e seus maiores expoentes, e a expansão de seus negócios pelo mundo. Nada mais natural, até aqui…
Entenda-se como Soft Power (Poder Brando) o conceito para descrever a capacidade de influenciar direta e indiretamente a opinião pública através de ferramentas como a mídia, a cultura e os esportes. E as Olimpíadas são justamente o mecanismo mais eficiente para promover estes propósitos, sendo o maior evento planetário, com capacidade de atingir mais de 4,5 bilhões de pessoas no mundo todo, através dos jornais, redes de TV, e especialmente a Web, nos últimos anos.
Vale enfatizar que, à margem de todos os problemas de falta de estrutura organizacional e orçamentária, e da instabilidade política no Brasil, a RIO 2016 conseguiu atingir plenamente seus objetivos, e transcorreu no clima de absoluta paz e tranquilidade, e em atmosfera de grande calor e alegria, que o povo carioca, talvez mais do que qualquer outro no mundo, pôde proporcionar a todos que estiveram nesta Capital Mundial do Esporte. Espera-se que o legado socioeconômico e na infraestrutura da cidade do Rio de Janeiro justifique todos os esforços envidados pela população local, e os gastos bilionários promovidos para o megaevento.
Para além dos conceitos acima, vimos observando a tentativa de se isolar a Rússia de todas as formas, desde o primeiro pacote de sanções movidas contra o país em março de 2014, o que vem motivando diversos artigos de minha autoria (o primeiro deles, A nau russa seguirá em frente, em março daquele ano) neste “tabuleiro geopolítico” através do qual os maiores protagonistas globais vêm mexendo peças de forma cada vez menos “branda”. Falar sobre “lealdade” em tempos atuais, seria uma ingenuidade. Naturalmente que os maiores esforços seriam movidos para fazer com que a Rússia ficasse fora do jogo, sobretudo no maior evento de escala global.
É de conhecimento público que os maiores ícones do esporte russo são Maria Sharapova, e Yelena Isinbayeva, e justamente estas foram impedidas de vir ao Rio de Janeiro, a primeira pela alegação do uso de uma substância indevida (o meldonium, anti-isquêmico), e a segunda por um boicote total ao Atletismo russo, que acabou se estendendo também aos chamados atletas limpos. Em termos jurídicos, “o ônus da prova caberia à parte que acusa”, de modo que, a nosso ver, seria totalmente injusta e indevida esta exclusão por inteiro. Não fosse pelo grande esforço movido pelo alemão Thomas Bach, dirigente máximo do Comitê Olímpico Internacional, toda delegação russa teria sido excluída dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Muito infelizmente, não foi o que se observou no caso dos atletas paralímpicos que foram impedidos por medida do presidente do Comitê Paralímpico Internacional, o britânico Sir Philip Craven, mesmo antes de haver qualquer análise técnica, e a comprovação de dopings das centenas de atletas russos que participariam do certame, para a tristeza e frustração destes verdadeiros heróis da superação – heróis, sejam eles russos ou de quaisquer nacionalidades que tivessem de passar por esta infame injustiça.
Nos últimos dias a mídia internacional noticiou que hackers invadiram os arquivos do site da Agência Mundial Antidoping (WADA, sigla em inglês), e descobriram diversos documentos oficiais confidenciais que comprovavam o consumo de substâncias proibidas mas que apresentavam receitas médicas que indicavam que o uso era “terapêutico” dos compostos. Por este motivo, a WADA abria uma “exceção” para a utilização de medicamentos proibidos. Entre os atletas contemplados pela exceção estão a ginasta Simone Biles, e as irmãs Williams, do tênis. Todas americanas. Ou seja, se deduz que se “tiver receita médica tá valendo” – dependendo do médico que assina, e, naturalmente, da nacionalidade do atleta… “Atleta limpo”, só se houver transparência, equidade, e “jogo limpo”. Não é o que se constata, em absoluto.
Entre os Gladiadores da Roma Antiga existia um lema que é adotado até hoje pelos atletas das Lutas Olímpicas: “Força e Honra”. O que se observa hoje é o uso da força, que longe de ser branda, está a anos-luz da honradez.
Apesar disso tudo, sigo acreditando no bom senso da razão humana, na força da diplomacia e no uso devido e legítimo de forças brandas, como a cultura e o esporte, para a aproximação dos povos nesta cada vez menor aldeia global.
CÂMARA BRASIL-RÚSSIA
Presidente: Gilberto F. Ramos