Moscou busca reforçar laços com o Sul Global e vê nas companhias brasileiras uma alternativa estratégica para suprir nichos da economia russa
O conflito na Ucrânia e as sanções ocidentais têm redesenhado o panorama comercial da Rússia, que busca contornar as sanções por meio de um novo modelo econômico e do fortalecimento de parcerias com países fora do eixo ocidental, destacadamente aqueles que compõem o BRICS. Neste sentido, o Brasil surge como alternativa viável para ocupar espaços deixados por empresas dos Estados Unidos e da Europa, conforme destacou o vice-ministro da Economia russo, Vladimir Ilyichev, durante o 28º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, realizado entre os dias 18 e 21 de junho.
Com a saída maciça de companhias ocidentais desde 2022, setores inteiros da economia russa permanecem com oferta limitada. Embora os chineses tenham assumido protagonismo em áreas como automóveis e telecomunicações, ainda existem nichos não explorados.
É nesse vácuo que Moscou enxerga potencial para a entrada de empresas brasileiras, especialmente nos segmentos de engenharia, produtos de consumo e manufaturas especializadas.
O comércio entre Brasil e Rússia já mostra sinais de fortalecimento, tendo atingido em 2024 um volume recorde de US$ 12,4 bilhões.
As trocas concentram-se principalmente em fertilizantes, petróleo, metais e alimentos. No entanto, o governo russo vê espaço para diversificação, incluindo setores estratégicos como o nuclear, que pode abrir novas frentes de colaboração bilateral.
Executivos russos de empresas como a Rostelecom (Mikhail Oseevskiy) e a Rostec (Sergey Chemezov) afirmaram publicamente não haver mais confiança nos antigos parceiros da Europa e dos EUA. O Brasil se consolida como a melhor alternativa.
Com isso, a Rússia pretende focar suas relações comerciais nos países do BRICS, grupo ao qual o Brasil pertence junto com China, Índia e África do Sul, além de outros países.
Nesse novo cenário geopolítico, o Brasil pode aproveitar não apenas a aproximação direta com Moscou, mas também a sua já consolidada presença no mercado asiático.
Empresas brasileiras que atuam em parceria com o setor produtivo chinês podem facilitar a integração com a cadeia russa, ampliando o alcance internacional dos seus produtos. Ainda assim, será preciso lidar com a concorrência da China em diversos setores.
A aposta russa em parceiros do Sul Global, diante do isolamento do Ocidente, abre uma janela de oportunidade para o reposicionamento internacional do Brasil. O momento é estratégico para que empresas brasileiras ocupem espaços deixados por gigantes internacionais e consolidem sua presença em um mercado em transformação, onde há demanda real por soluções flexíveis e sob medida.
Dilma Rousseff alerta sobre futuro do Brasil na Quarta Revolução Tecnológica: “Não podem ser só commodities”
Projetos de desenvolvimento econômico são fundamentais para o Brasil se posicionar diante da Quarta Revolução Industrial e Tecnológica, explicou a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Dilma Rousseff em entrevista exclusiva à agência Sputnik Brasil. Nesse contexto, o Brasil deverá se destacar em frentes que vão desde a agricultura até a inteligência artificial (IA).
“Para isso, a cooperação entre os países será fundamental”, explicou Rousseff. “Todos os países que se desenvolveram, fizeram isso com transferência de tecnologia.”
Apesar de reconhecer a importância que a agricultura e as exportações de commodities têm na economia brasileira, Rousseff acredita que o Brasil “não pode ser só isso”.
“Nós precisamos ter acesso à inteligência artificial, à biotecnologia. Não devemos ser só consumidores de plataformas [digitais]. E isso temos que trocar dentro do BRICS”, considerou Rousseff. “A Rússia, a China e o Brasil têm tecnologias diversas, e isso permite que se crie um ecossistema de cooperação.”
A presidente do NDB (Banco do BRICS) acredita que há espaço para a troca de conhecimento entre Brasil e Rússia, reconhecendo as áreas prioritárias para cada país.
Delegações de 144 países visitaram o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo
O comitê organizador do fórum também informou que durante o evento foram fechados 1.060 acordos no valor de 6,3 trilhões de rublos (cerca de R$ 442,8 bilhões).
Durante o fórum tiveram lugar 24 diálogos empresariais com países-chave, incluindo o diálogo entre Rússia e Brasil, realizado no dia 18 de junho.
(fontes: Agência Sputnik Brasil / RT Brasil / Câmara Brasil-Rússia)
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