Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) demonstraram interesse no modo de trabalho e na metodologia dos cientistas do Centro Federal de Pesquisas Científicas Sociológicas da Academia Russa de Ciências. Sociólogos, antropólogos e etnógrafos russos e brasileiros estão planejando realizar cerca de 20 estudos paralelos sobre os povos indígenas dos dois países em 2024, de acordo com declaração dos participantes da Rússia do futuro programa de pesquisa à agência de notícias TASS, na última terça-feira, 15 de agosto, em uma reunião na Biblioteca Ártica de Moscou.
O encontro entre os pesquisadores ocorreu no âmbito da abertura de uma expedição científica em grande escala intitulada “Tchístaia Árktika – Vostok 77” (em tradução livre, “Ártico Limpo – Oriente 77”). Os cientistas russos são vinculados ao Centro Federal de Pesquisas Científicas Sociológicas da Academia Russa de Ciências, em São Petersburgo, e darão continuidade a suas pesquisas sobre o ambiente dos povos indígenas do Norte. Os brasileiros são vinculados à Universidade Federal do Rio de Janeiro e demonstraram interesse no trabalho e na metodologia russa quanto a populações indígenas nativas.
“Temos um estudo em grande escala dos processos de formação de opinião pública em comunidades indígenas modernas, e daremos continuidade a ele ao longo do ano. Trata-se de pessoas modernas, que vivem perto de nós, mas que mantêm um determinado conjunto de conhecimentos, habilidades, culturas tradicionais, assim como suas línguas nativas. Na Rússia, contamos com mais de 40 povos do Norte [indígenas], enquanto o Brasil tem cerca de 70 povos equivalentes — mas o norte deles é a Amazônia. Gostaríamos – e nossos colegas no Brasil concordaram com isso – de realizar pesquisas absolutamente idênticas, em um único sistema de sinais e medidas“, disse Dmítri Belov, colaborador científico do Centro Federal de Pesquisas Científicas Sociológicas da Academia Russa de Ciências.
Os cientistas dos dois países trocarão experiências e esperam realizar intercâmbios, visitando os países de seus colegas de pesquisa, algo de extrema importância para a seção de estudos culturais do projeto. “Minha área é o estudo de mitos e lendas e o processamento deles a partir do folclore para o cenário geral. Se tomarmos, por exemplo, os mitos das populações nativas brasileiras, dos indígenas, e dos nossos povos setentrionais, eles são muito semelhantes. Eles têm os mesmos símbolos que desenham nas árvores“, disse Elena Serebriakova, pesquisadora do Centro Federal de Pesquisas Científicas Sociológicas da Academia Russa de Ciências e diretora do Centro de Diplomacia Pública do “BRICS Plus”, uma plataforma internacional de negócios com a participação de especialista, cientistas, investidores e figuras públicas projetada para melhorar a qualidade de vida e o nível de responsabilidade ambiental e social para empresas, governos e sociedades.
Sobre a expedição
A expedição científica “Ártico Limpo – Oriente 77” iniciou-se no dia 15 de agosto, com o estudo da ecologia da Península de Kola, a primeira de sete rotas que estudarão a poluição do mar por microplásticos transportados pela Corrente do Golfo. Um dos objetivos da expedição, que terá duração de um ano, será o estudo e a preservação de idiomas setentrionais raros. A “Ártico Limpo – Oriente 77” é a maior expedição científica continental de alta latitude na história da exploração setentrional, em termos de número de participantes. No total, ela contará com 77 membros ativos.
A rota da expedição foi traçada levando-se em conta as tarefas Estatais dos centros científicos da Academia Russa de Ciências e as pesquisas planejadas dentro da estrutura de projetos universitários aprovados para receberem fundos com esses fins. A previsão é de que, durante os 12 meses de duração da expedição, 700 participantes de mais de 20 centros da Academia Russa de Ciências e universidades federais, bem como voluntários da Sociedade Geográfica Russa, realizem 200 trajetos expedicionários, cobrindo 12 mil quilômetros. É a primeira vez, em 40 anos, que se realiza uma expedição de tais dimensões.
(Fonte: Revista Intertelas – texto originalmente publicado no site Russia Beyond BR)